Mãe eterniza história do filho em livro após perdê-lo em assalto e persevera para transformar dor em propósito: 'Sou uma sobrevivente'

  • 25/05/2025
(Foto: Reprodução)
Alessandra do Valle fundou um instituto voltado a projetos sociais nas áreas de esporte, saúde e educação, e acredita que a fé em Deus a sustenta diariamente: 'Todos os dias eu choro'. Alessandra do Valle eternizou a história do filho em livro Arquivo pessoal Há quatro anos, Alessandra do Valle Siquieri — filha do ex-narrador esportivo Luciano do Valle (1947-2014) — enfrenta um silêncio deixado pela partida do filho, um vazio que nenhuma passagem do tempo é capaz de preencher. 📱 Participe do Canal do g1 Presidente Prudente e Região no WhatsApp Mãe de cinco meninos, Alessandra viu sua vida mudar drasticamente em 2021, quando perdeu o filho mais velho, Lucas do Valle Oliveira, aos 30 anos, durante uma abordagem criminosa em São Paulo (SP). “O que aconteceu com o meu filho mais velho Lucas foi que ele estava em São Paulo, no bairro do Ipiranga, às 6h30, ele tinha ido fazer a coisa que ele mais amava na vida, que era jogar futevôlei, e ele estava distraído no carro quando foi abordado por dois delinquentes, um estava na moto e o outro a pé, e ele foi surpreendido dessa forma”, lembra a jornalista, que atualmente mora em Presidente Prudente (SP). “Ele estava com o vidro um pouco aberto. Ele tinha o carro blindado, mas, nesse dia, estava no carro da minha nora. Ele saiu do carro e a gente não consegue acreditar até hoje que em fração de segundos um delinquente deu um tiro na cabeça do meu filho. Isso é algo que, até hoje, às vezes, eu acordo de madrugada com a sensação de que eu poderia estar acordando de um pesadelo. É muito duro lidar com isso”, afirma a mãe ao g1. Alessandra do Valle e o filho Lucas do Valle Oliveira Arquivo pessoal Descoberta Alessandra morava em Sorocaba (SP) e estava dormindo quando recebeu a pior notícia de sua vida. Ela foi despertada às 6h45 pelos gritos de um de seus filhos — e, então, soube que seu primogênito não estaria mais presente fisicamente em seus dias. Um instante que a marcou para sempre. “Quando recebi a notícia, eu estava em Sorocaba, então, eu fui dormir, aí eu acordei às 6h45 com meu filho número dois, o Gabriel do Valle Oliveira, gritando, falando que o meu filho Lucas tinha levado um tiro na cabeça. É algo que, por mais que você tenha coração, quem estiver lendo essa matéria, é algo que não dá para colocar como 'filme de terror' para uma mãe que escuta isso, porque uma mãe escutar que um filho levou um tiro na cabeça é uma experiência 'quase morte'. É muito difícil a gente passar por isso. Eu falo que, todos os dias, quando eu acordo, eu sou uma sobrevivente”, descreve. Lucas do Valle Oliveira morreu aos 30 anos em São Paulo (SP) Arquivo pessoal Luto Alessandra revela que sempre teve muita fé em Deus e, diante da dor, sentiu que lhe haviam restado apenas duas escolhas: se revoltar contra Ele ou se apegar ainda mais. “Lidar com o luto é algo muito dolorido, ainda mais quando você tem a vida de um filho interrompida assim, de um jeito tão brutal. Não é fácil. Eu sempre fui uma pessoa de muita fé e eu tinha duas opções: me revoltar contra Deus ou me apegar mais a Ele. Então, eu resolvi me apegar mais a Deus”, menciona ela. “Eu acho que a revolta não iria trazer meu filho de volta, da mesma forma que não iria mudar a situação, então, eu procuro sempre lembrar dos melhores momentos que eu tive com ele e entender que a minha vida foi de um jeito até essa saída tão covarde do meu filho, porque você ter a vida de um filho ceifada do jeito que foi é algo que a gente não acredita. E todo mundo, né? Pensa em vingança, pensa em ficar acompanhando o delinquente — um deles era maior de idade e o outro na época tinha 14 anos. Eu não fico acompanhando porque eu acho que a justiça divina é a que prevalece para todo mundo”, acredita. Lucas do Valle Oliveira teve a vida interrompida em 2021, em São Paulo (SP) Arquivo pessoal História em livro A mãe de cinco decidiu eternizar a história de vida do primogênito e a despedida dele do mundo físico em um livro. Sob a perspectiva do amor incondicional, “Meu Eterno Captain” (Disrup Talks) narra momentos que, por vezes, pareciam indicar que Lucas já traçava caminhos rumo ao adeus. “A decisão de escrever o livro foi uma forma de compartilhar com as pessoas toda a história do Lucas, no contexto físico, mas também no contexto espiritual, porque as pessoas que tiverem a oportunidade de ler o livro vão ver o tanto que aconteceu uma série de fatos que, por exemplo, em uma última viagem que a gente fez, ele falou: 'Mãe, vamos fazer uma viagem juntos?'. No auge da pandemia, ele quis ir para Porto de Galinhas [PE], onde o avô dele, meu pai, construiu uma história de muito sucesso, muita credibilidade com o povo pernambucano”, expõe Alessandra ao g1. “Ele quis conhecer a casa em que meu pai residiu durante muito tempo, queria andar na jangada em que meu pai andava. Ele quis fazer o percurso do avô. Foi algo muito forte e hoje eu entendo que era uma viagem de despedida, e ainda bem que eu fui, né? Imagina se eu não tivesse ido! Ainda bem que eu fui. A gente não economizou, mesmo estando em um momento em que o mundo estava passando por um momento negro, muito sofrimento, muita gente morrendo, muita interrogação, mas ainda bem que eu atendi [a vontade dele]”, desabafa a mãe. “Aí eu falo que a gente tem que, no livro eu abordo isso, da questão da intuição, sabe? De ouvir aquela voz que eu falo que é Deus falando, que é o universo te mandando recados que nós precisamos estar atentos”, acrescenta. Alessandra do Valle escreveu um livro sobre a história do filho Arquivo pessoal Transformação Alessandra acredita que é possível transformar a dor em propósito de vida. “Eu, pelo menos, se eu puder dar um conselho para todo mundo, e o que eu diria para mães que perderam seus filhos, é que você pode escolher ficar em uma situação de ódio, de ira, e tentar fazer justiça com as próprias mãos, ou você pode transformar a sua dor em propósito de vida, que é o que eu faço hoje, através da história do meu pai, de 50 anos muito bem entregues para todo o nosso Brasil, e fazer um trabalho de formiguinha. Eu acredito muito no poder de transformação do esporte porque a minha premissa de vida hoje é que, se esse delinquente estivesse em um instituto como o que eu tenho hoje, que é o Instituto Luciano do Valle, do qual eu sou presidente, ou em tantos projetos na área esportiva, com certeza, ele não teria tido tempo para tirar a vida do meu filho”, pontua a filha do ex-narrador esportivo. O Instituto Luciano do Valle existe há dois anos, em Sorocaba, e começará a oferecer no segundo semestre de 2025 o gerenciamento de esporte de alta performance, bem como projetos sociais com atuação no esporte, na educação e na saúde. A mãe conta que sente o filho vivo dentro de si, nas lembranças que guarda e nos momentos que compartilhou com ele. Ela tem consciência de que ser mãe do Lucas por 30 anos foi um privilégio — algo que nenhuma perda é capaz de apagar. “Então, eu resolvi escrever esse livro compartilhando, dividindo todo o presente de Deus que foi, para mim, ser a mãe do Lucas, porque eu sempre vou ser a mãe dele e eu nem consigo colocar o meu filho no passado porque ele está muito vivo dentro de mim, dentro das minhas lembranças, que são as melhores possíveis, graças a Deus. E, durante 30 anos, eu tive o privilégio muito grande de ser a mãe do Lucas. Então, esse livro aborda desde o nascimento do Lucas até o dia mais triste, que nenhuma mãe merece passar”, conta a autora ao g1. É possível adquirir o livro em contato com a autora por meio das redes sociais @alessandra_dovalle. 'Meu Eterno Captain' foi escrito por Alessandra após a perda do filho Arquivo pessoal Mesmo enfrentando uma dor dilacerante, Alessandra nunca deixou de praticar exercícios físicos e trabalhar, pois acreditava — e ainda acredita — que, se parasse, talvez não sobreviveria. “Eu nunca parei. Eu ia chorando me movimentar, para produzir serotonina e dopamina, cuidar dos meus filhos pequenos e enfrentar essa dor dilacerante. Eu tinha certeza de que, se eu não fizesse força para levantar, talvez eu não estaria viva. Todos os dias eu choro. Domingo é o pior dia para alimentar essa dor, justamente por remeter muito à família reunida”, relata a mãe. Alessandra acredita que a última viagem que fez com o filho era uma despedida Arquivo pessoal Fé que sustenta Ela reafirma que a fé em Deus é o que a sustenta ao longo de todos esses anos e acredita que, sem essa fé, a dor se tornaria insuportável. É essa conexão espiritual que a mantém firme e permite-lhe transformar o sofrimento em propósito e esperança. “E o que eu diria ainda para a mãe que perdeu seu filho é que, se ela já tem fé, todos os dias multiplique essa fé, e se ela não tiver essa fé, ela não vai aguentar passar por isso. Eu gostaria muito que Deus deixasse uma carta branca para todas as mães, para a gente poder trocar de lugar com os filhos. Esse é o meu amor pelo meu filho. Meu filho daria conta de cuidar dos irmãos, de cuidar do padrasto, do pai, da mulher dele, porque ele era casado, de todos os projetos que ele tinha, dos que eu tinha com ele também, porque trabalhávamos juntos, então, se eu pudesse, eu teria trocado de lugar com ele”, declara Alessandra ao g1. “Então, como Deus não me deu essa oportunidade, não deu essa possibilidade para todas as mães, a gente tem que acreditar em Deus e que todos nós temos a nossa data de chegada e a gente nunca sabe a da partida, e a gente nunca imagina que uma pessoa que é a pessoa mais importante da sua vida, porque é seu filho, um amor incondicional, vá sair do jeito que saiu”, acrescenta. “Então, se você não tiver uma fé muito grande, você não consegue mais, porque, mesmo eu já tendo a minha fé, todos os dias eu choro, todos os dias eu fico o tempo inteiro com o meu filho, eu converso com meu filho e tenho certeza de que, de onde ele está, ele me intui, ele me guia, guia os irmãos, o pai, o padrasto, os amigos. Então, o conselho que eu dou é: se apegue muito a Deus, porque, sem Deus, é humanamente impossível continuar”, conclui a mãe do Lucas e também do Gabriel, do João Pedro, do Leonardo e do José Henrique. Luciana do Valle é mãe de cinco meninos Arquivo pessoal VÍDEOS: Tudo sobre a região de Presidente Prudente Veja mais notícias em g1 Presidente Prudente e Região.

FONTE: https://g1.globo.com/sp/presidente-prudente-regiao/noticia/2025/05/25/mae-eterniza-historia-do-filho-em-livro-apos-perde-lo-em-assalto-e-persevera-para-transformar-dor-em-proposito-sou-uma-sobrevivente.ghtml


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